A new ProZ.com translation contests interface is currently in development, and a preview contest is underway. Click here to visit the new interface »

Previous ProZ.com translation contests

English » Portuguese (EU) - 9 finalists


"Hearing Myself Think" by Richard Beard - www.richardbeard.info 382 words
Heathrow Airport is one of the few places in England you can be sure of seeing a gun. These guns are carried by policemen in short-sleeved shirts and black flak-jackets, alert for terrorists about to blow up Tie-Rack. They are unlikely to confront me directly, but if they do I shall tell them the truth. I shall state my business. I’m planning to stop at Heathrow Airport until I see someone I know. (...)

Astonishingly, I wait for thirty-nine minutes and don’t see one person I know. Not one, and no-one knows me. I’m as anonymous as the drivers with their universal name-cards (some surnames I know), except the drivers are better dressed. Since the kids, whatever I wear looks like pyjamas. Coats, shirts, T-shirts, jeans, suits; like slept-in pyjamas. (...)

I hear myself thinking about all the people I know who have let me down by not leaving early on a Tuesday morning for glamorous European destinations. My former colleagues from the insurance office must still be stuck at their desks, like I always said they would be, when I was stuck there too, wasting my time and unable to settle while Ally moved steadily onward, getting her PhD and her first research fellowship at Reading University, her first promotion.

Our more recent grown-up friends, who have serious jobs and who therefore I half expect to be seeing any moment now, tell me that home-making is a perfectly decent occupation for a man, courageous even, yes, manly to stay at home with the kids. These friends of ours are primarily Ally’s friends. I don’t seem to know anyone anymore, and away from the children and the overhead planes, hearing myself think, I hear the thoughts of a whinger. This is not what I had been hoping to hear.

I start crying, not grimacing or sobbing, just big silent tears rolling down my cheeks. I don’t want anyone I know to see me crying, because I’m not the kind of person who cracks up at Heathrow airport some nothing Tuesday morning. I manage our house impeccably, like a business. It’s a serious job. I have spreadsheets to monitor the hoover-bag situation and colour-coded print-outs about the ethical consequences of nappies. I am not myself this morning. I don’t know who I am.

The winning and finalist entries are displayed below.To view the like/dislike tags the entries received simply click on the "view all tags" link on the right hand corner of each entry.

You can leave your feedback for this pair at the bottom of the page.

Congratulations to the winners and thanks to all the participants!






Entry #1 - Points: 39 - WINNER!
Fabio Said
Fabio Said
Germany
View all tags
O Aeroporto de Heathrow é um dos poucos lugares da Inglaterra onde você seguramente verá armas. Elas são carregadas por policiais vestidos com camisa de manga curta e colete à prova de bala e em estado de alerta contra terroristas prestes a mandar a loja da Tie Rack para os ares. Dificilmente eu seria abordado por esses policiais, mas se isso acontecer direi a verdade. Direi exatamente o que estou fazendo aqui. Pretendo ficar no Aeroporto de Heathrow até encontrar alguém que eu conheça. (...)

O surpreendente é que depois de uma espera de trinta e nove minutos não encontro ninguém que eu conheça. Absolutamente ninguém, e tampouco alguém que me conheça. Sou tão anônimo quanto os motoristas de traslado segurando placas multiuso com os nomes de seus passageiros (conheço, aliás, alguns dos sobrenomes nessas placas), exceto pelo fato de que os motoristas são mais bem vestidos. Desde o nascimento dos meus filhos, tudo que visto parece pijama. Sobretudos, camisas, camisetas, jeans, paletós; tudo parece pijama dormido. (...)

Em determinado momento, ouço meus próprios pensamentos sobre sobre todas as pessoas que eu conheço e que me decepcionaram por não estar voando com destino a algum local glamoroso da Europa neste início de manhã de terça-feira. Meus ex-colegas da seguradora ainda devem estar presos a suas mesas de trabalho, exatamente como eu sempre havia previsto quando também estava preso à minha, desperdiçando meu tempo e incapaz de me estabelecer na vida, enquanto a Ally avançava firme, conquistando o doutorado, a primeira bolsa de pesquisadora na Universidade de Reading, a primeira promoção.

Nossos amigos mais recentes, amizades travadas já na idade adulta, que têm suas ocupações sérias e que, por isso mesmo, eu meio que esperava encontrar a qualquer momento aqui, me dizem que ser dono de casa e cuidar dos filhos é uma ocupação perfeitamente decente para um homem, corajosa até, e, por que não, máscula. Esses nossos amigos são principalmente amigos da Ally. Tenho a sensação de que não conheço mais ninguém; longe das crianças e dos aviões que passam raspando sobre minha cabeça, ouço meus próprios pensamentos e acabo identificando neles os pensamentos de um sujeito choramingueiro. E não era isso que eu esperava ouvir.

Começo a chorar, mas sem fazer careta, nem soluçar, somente as lágrimas gordas e mudas escorrendo pelo rosto. Não quero que ninguém que eu conheça me veja chorando, porque não sou o tipo de sujeito que tem ataques no Aeroporto de Heathrow em uma manhã insignificante de terça-feira. Sou o administrador de nossa casa e faço isso impecavelmente, como se estivesse administrando uma empresa. É um trabalho sério. Tenho planilhas para monitorar a situação do saco do aspirador de pó e impressões de computador com códigos coloridos sobre as conseqüências éticas das fraldas. Nesta manhã de terça-feira, eu não sou mais eu. Não sei mais quem sou.



Entry #2 - Points: 33
Rafa Lombardino
Rafa Lombardino
United States
View all tags
O Aeroporto Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde você pode ter certeza de que verá um revólver. Esses revólveres são empunhados por policiais de camisa de manga curta e colete à prova de balas e que estão em alerta, procurando terroristas prestes a explodir a loja Tie-Rack. É pouco provável que eles me confrontem diretamente, mas se o fizerem eu tenho que falar a verdade. Tenho que lhes dizer a que vim. Planejo ficar no Aeroporto Heathrow até ver alguém que conheço. (...)

Surpreendentemente, fico esperando 39 minutos e não vejo ninguém conhecido. Nem uma pessoa e nenhuma que me conheça. Sou tão anônimo quanto os motoristas segurando plaquinhas com nomes (alguns sobrenomes eu conheço), mas os motoristas estão mais bem vestidos do que eu. Desde que as crianças nasceram, qualquer coisa que eu visto parece pijama. Casacos, camisas, camisetas, calças jeans, ternos… como se fossem roupa de dormir. (...)

Ouço meus próprios pensamentos sobre as pessoas que eu conheço e que me decepcionaram por não terem saído cedo numa terça-feira rumo a destinos deslumbrantes na Europa. Meus antigos colegas de trabalho na companhia de seguros devem estar presos às suas mesas, como eu disse que eles ficariam para o resto da vida quando eu também estava preso no escritório, desperdiçando meu tempo e sem sair do lugar, enquanto a Ally seguia em frente, estudando para obter o PhD e conquistar o seu primeiro posto no departamento de pesquisas da Universidade Reading, sua primeira promoção.

Os amigos adultos que fizemos mais recentemente, que têm empregos sérios e eu meio que esperava ver a qualquer momento aqui, me dizem que ocupar-se dos afazeres do lar é algo perfeitamente decente para um homem, chegando até a ser corajoso, isso mesmo, ficar principalmente em casa cuidando dos filhos. Esses amigos nossos são, em primeiro lugar, os amigos da Ally. Parece que eu não conheço mais ninguém e, agora que estou longe das crianças e dos aviões voando lá em cima, ouvindo meus próprios pensamentos, o que eu escuto é a voz de um reclamão. Isso não é o que eu esperava ouvir.

Começo a chorar, mas sem fazer careta ou soluçar. São apenas lágrimas que verto em silêncio. Não quero que ninguém que eu conheço me veja chorando, porque não sou do tipo que perde a compostura no Aeroporto Heathrow em plena terça-feira de manhã. Administro a nossa casa nos mínimos detalhes, como se fosse uma empresa. É um trabalho sério. Tenho planilhas para monitorar o status do filtro do aspirador de pó e artigos impressos, identificados por código de cores, sobre as conseqüências éticas das fraldas descartáveis. Estou fora de mim esta manhã. Não sei quem eu sou.



Entry #3 - Points: 30
José Ignacio Coelho Mendes Neto (X)
José Ignacio Coelho Mendes Neto (X)
Brazil
View all tags
O aeroporto de Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde você pode ter certeza de que verá uma arma. Essas armas são carregadas por policiais em camisas de manga curta e coletes à prova de bala pretos, atentos a terroristas prestes a explodir a Tie-Rack. É pouco provável que me questionem diretamente, mas, se o fizerem, hei de dizer-lhes a verdade. Direi a que venho. Planejo permanecer no aeroporto de Heathrow até ver alguém que conheço. (...)

O surpreendente é que espero por trinta e nove minutos e não vejo uma pessoa conhecida. Nem uma sequer, e ninguém me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas com seus crachás universais (alguns sobrenomes eu conheço), a não ser pelo fato de que os motoristas estão melhor vestidos. Desde a infância, qualquer coisa que eu vista se parece com pijamas. Casacos, camisas, camisetas, jeans, ternos; como pijamas dormidos. (...)

Pego-me pensando em todas as pessoas que conheço que me deixaram na mão ao não partir cedo numa terça-feira de manhã para glamorosos destinos europeus. Meus antigos colegas da corretora de seguros ainda devem estar presos às suas escrivaninhas, como eu sempre disse que estariam, quando eu estava preso lá também, perdendo meu tempo e incapaz de me estabelecer enquanto Ally avançava firmemente, obtendo seu PhD e sua primeira bolsa de pesquisa na Universidade de Reading, sua primeira promoção.

Nossos amigos crescidos mais recentes, que têm empregos sérios e que, portanto, eu meio que espero ver a qualquer momento, dizem-me que cuidar da casa é uma ocupação perfeitamente decente para um homem, corajosa até, sim, é másculo ficar em casa com os moleques. Esses nossos amigos são principalmente amigos da Ally. Parece que não conheço mais ninguém, e longe das crianças e dos aviões acima da minha cabeça, ouvindo-me pensar, eu ouço os pensamentos de um chorão. Não é isso o que eu esperava ouvir.

Começo a chorar, sem caretas nem soluços, só grandes lágrimas silenciosas escorrendo pelas minhas bochechas. Não quero que ninguém conhecido me veja chorando, porque não sou do tipo de pessoa que surta no aeroporto de Heathrow numa manhã de terça-feira de nada. Administro nossa casa impecavelmente, como um negócio. É um trabalho sério. Tenho planilhas para monitorar o estado dos sacos de aspirador e fichas com código de cores sobre as conseqüências éticas das fraldas. Eu não sou eu mesmo esta manhã. Eu não sei quem sou.



Entry #4 - Points: 10
Silvio Picinini
Silvio Picinini
United States
View all tags
O Aeroporto de Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde é certeza que você vai ver uma arma. Elas são carregadas por policiais com camisas de mangas curtas e coletes de proteção pretos, sempre alertas quanto à a ação de terroristas prontos para explodir as gravatas da Tie-Rack. A chance de me confrontarem diretamente é mínima. Mas se fizerem isso, terei que dizer a verdade. Terei de declarar minhas intenções. Pretendo esperar no Aeroporto de Heathrow até ver alguém que eu conheça.

Para minha surpresa, espero por trinta e nove minutos e não vejo nenhuma pessoa que eu conheça. Nem mesmo uma. E ninguém me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas, que têm crachás com nome (e eu conheço alguns sobrenomes). Exceto que os motoristas se vestem melhor que eu. Desde que as crianças nasceram, qualquer coisa que eu vista parece um pijama. Casacos, camisas, camisetas, jeans, terno, tudo se parece com pijamas. De alguém que acabou de se levantar.

Ouço meu próprio pensamento. Penso em todas as pessoas que conheço que me desapontaram por não saírem de viagem numa terça de manhã rumo a uma encantadora cidade européia. Meus antigos colegas na seguradora devem estar presos a suas mesas, como eu sempre disse que estariam, quando eu também estava preso lá. Perdendo meu tempo e incapaz de sossegar, enquanto Ally progredia de forma segura e constante, obtendo seu PhD e seu primeiro cargo de pesquisa na Reading University, sua primeira promoção.

Nossos amigos adultos mais recentes, que têm empregos sérios, e que tenho uma boa expectativa de ver aqui a qualquer momento, me dizem que dono-de-casa é um trabalho perfeitamente decente para um homem. Até mesmo corajoso, sim, másculo, ficar em casa com as crianças. Nossos amigos são primariamente amigos da Ally. Parece que não conheço mais ninguém, e além do som das crianças e dos aviões, ouço meu próprio pensamento. E ouço o pensamento de uma matraca infinitamente a se lamentar. E não era isso que eu esperava ouvir.

Começo a chorar. Sem fazer caretas, sem soluçar. Apenas grossas lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas. Não quero que ninguém me veja chorando, porque não sou o tipo de pessoa que se desfaz em pedaços no aeroporto de Heathrow numa terça de manhã. Administro nossa casa com perfeição, como uma empresa. É um trabalho sério. Tenho planilhas para monitorar a situação do saco de pó do aspirador e relatórios codificados por cor sobre as consequências éticas de fraldas. Não sou eu mesmo esta manhã. Eu não sei quem eu sou.



Entry #5 - Points: 10
View all tags
O interior do aeroporto de Heathrow é um dos poucos locais na Inglaterra onde você, com certeza, terá a oportunidade de ver uma arma. Tais armas são portadas por policiais, trajando camisas de mangas curtas e coletes à prova-de-balas, sempre vigilantes face à terroristas como os envolvidos com a explosão na Tie-Rack. É improvável que eles me inquiram diretamente, mas se o fizerem, direi a verdade. Falarei sobre o meu ramo de negócio e que pretendo permanecer neste aeroporto somente até encontrar uma pessoa conhecida.

Surpreendentemente, aguardo por trinta minutos e não vejo nenhuma pessoa conhecida. Não conheço ninguém e ninguém me reconhece. Sou tão anônimo quanto aos motoristas com seus tradicionais crachás (alguns sobrenomes eu até sei), excetuando-se aqueles motoristas que se destacam por vestirem-se melhor. Desde crianças, qualquer roupa que eu vista me faz sentir como num pijama. Seja um casaco, uma camisa, uma camiseta, um jeans, ternos; tudo me parece amarrotado como pijamas dormido.

Fico então a pensar em todas as pessoas que conheço e que estão desapontadas por não terem saído cedo, numa manhã de terça-feira, em busca de um encantador destino europeu. Muitos de meus ex-colegas do escritório ainda permanecem pregados às suas mesas, como eu sempre disse que estariam. Naquela época eu também ficava assim, gastando meu tempo e incapaz de concentrar-me em algo melhor, enquanto a Ally olhava sempre para frente, buscando seu Ph D e sua primeira bolsa de estudos para pesquisas, na Reading University, seu grande estímulo.

Nossos amigos recente e mais idosos, ocupantes de cargos importantes os quais tenho a esperança de encontrá-los a qualquer momento, disseram-me que o trabalho doméstico é uma atividade perfeitamente decente para um homem, desafiante e até mesmo corajosa, além de permitir ficar em casa com os filhos. Estes amigos em comum são os principais amigos da Ally. Eu desconheço qualquer um, hoje em dia, que longe dos filhos e preocupado com horários de vôos e vendo-me pensativo, ainda conseguem se preocupar com os pensamentos de um choramingão.  Isto não é o que eu esperava por ouvir.

Então eu chorei, sem trejeitos ou soluços, só no silêncio das lágrimas que rolaram de minha face. Eu não quero saber de ninguém vendo-me a chorar, pois não sou do tipo de pessoa capaz de ter um ataque de nervos em pleno aeroporto de Heathrow, numa manhã de qualquer terça-feira. Eu administro nossa casa de forma impecável, como se fosse uma empresa. E levo esta tarefa a sério. Disponho, desde planilhas para o controle de sacos de aspirador, até folhas impressas, com código de barras, referentes às conseqüências do uso consciente das fraldas descartáveis das crianças. Mas nesta manhã eu não estou me reconhecendo. Eu não sei quem sou.



Entry #6 - Points: 10
View all tags
O Aeroporto de Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde você pode ter certeza de que verá uma arma. São as armas dos policiais vestidos com camisa de manga curta e colete antiestilhaços preto, à procura de terroristas prestes a explodir a Tie Rack. É pouco provável que me abordem diretamente, mas, se o fizerem, direi a verdade. Irei direto ao assunto. Vou ficar no Aeroporto de Heathrow até encontrar uma pessoa conhecida (...)

É impressionante, espero 39 minutos e não avisto um único conhecido sequer. Nenhum – ninguém me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas com seus cartazes universais (alguns sobrenomes eu conheço), exceto pelo fato de eles estarem mais bem-vestidos do que eu. Desde que as crianças nasceram, tudo que visto parece pijama. Casaco, camisa, camiseta, jeans, terno – não adianta, parece que estou sempre de pijama (...)

Eu me pego pensando em todas as pessoas que conheço que me decepcionaram por não partirem numa manhã de terça-feira rumo a fabulosos destinos europeus. Meus ex-colegas de trabalho da seguradora ainda devem estar diante da mesma mesa de trabalho, como sempre disse que estariam quando eu lá estava diante da minha mesa, desperdiçando meu tempo e incapaz de me endireitar, enquanto Ally seguia em frente, terminando seu doutorado e conseguindo uma bolsa para pesquisa na Reading University e sua primeira promoção.

Nossos amigos adultos mais recentes, que também têm um trabalho sério e que, portanto, eu meio que esperava encontrar a qualquer momento, dizem-me que cuidar do lar é uma ocupação perfeitamente decente para um homem, corajosa até; sim, ficar em casa cuidando das crianças é coisa de homem. Eles são amigos principalmente de Ally. Eu não conheço mais ninguém e, longe das crianças e dos aviões, ouvindo apenas o que se passa em minha cabeça, o que ouço são os pensamentos de um rabugento. Não é o que eu esperava ouvir.

Começo a chorar, sem caretas nem soluços; somente lágrimas grandes e silenciosas que rolam pelo meu rosto. Não quero que um conhecido me veja chorando – não sou desses caras que dão chilique em plena manhã de terça-feira no Aeroporto de Heathrow. Administro impecavelmente a nossa casa, como se fosse uma empresa. É um trabalho sério. Preparo planilhas para controlar o estoque de sacos de pó do aspirador e folhetos codificados por cores sobre as conseqüências éticas do uso de fraldas. Eu não sou eu mesmo hoje. Não sei quem sou.



Entry #7 - Points: 7
anonymousView all tags
O aeroporto Heathrow é um dos poucos lugares da Inglaterra onde você pode ter certeza de que verá uma arma. Essas armas portam-nas policiais em camisas de manga curta e coletes blindados pretos, sempre de olho em terroristas que podem detonar a loja Tie-Rack. É improvável que eles me confrontem diretamente, mas se o fizerem, dir-lhes-ei a verdade. Revelar-lhes-ei o meu propósito. Planejo ficar plantado no aeroporto Heathrow até ver alguém que conheço. (...)

É de estranhar, mas espero trinta e nove minutos e não vejo nenhum conhecido. Nem sequer um e ninguém me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas com suas identificações à lapela (reconheço alguns sobrenomes), a diferença é que os motoristas estão mais bem vestidos. Desde que tive filhos, qualquer coisa que visto parece pijama. Casacos, camisas, camisetas, jeans, ternos; como os pijamas em que passei a noite.

Surpreendo-me pensando em todas as pessoas que conheço que já me decepcionaram por não partirem terça-feira bem cedo para lugares glamurosos na Europa. Meus antigos colegas da companhia de seguros ainda devem estar presos às suas escrivaninhas, como já havia vaticinado, quando eu também me encontrava lá preso, desperdiçando meu tempo e incapaz de me estabelecer enquanto Ally progredia, obtinha seu PhD e sua primeira bolsa de pesquisas na Reading University, a sua primeira promoção.

Os amigos adultos que fizemos mais recentemente, que têm empregos sérios e que de certa forma espero encontrar a qualquer momento, dizem-me que não tem nada de errado um homem ficar em casa, que é corajoso e até mesmo bem macho ficar em casa com as crianças. Estes nossos amigos são mais amigos da Ally do que meus. Tenho a impressão de já não conhecer ninguém e longe das crianças e dos aviões que passam sobre minha cabeça, ouvindo meus próprios pensamentos, ouço os pensamentos de um rabugento. Não era isso que queria ouvir.

Ponho-me a chorar, não fazendo caretas ou soluçando, simplesmente lágrimas silenciosas escorrem pela minha face. Não quero que nenhum conhecido meu me veja chorando porque não sou o tipo de pessoa que se põe aos berros no aeroporto Heathrow numa inútil terça-feira de manhã. Administro impecavelmente nossa casa, como se fosse um negócio. É um trabalho sério. Uso planilhas para monitorar o estado do reservatório de poeira do aspirador e folhas coloridas e com códigos que tratam das conseqüências éticas das fraldas. Há algo de errado comigo hoje de manhã. Não me reconheço a mim mesmo.



Entry #8 - Points: 6
View all tags
O Aeroporto de Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde você pode ter a certeza de ver uma arma. Essas armas são carregadas por policiais de camisetas e coletes pretos, alertas para terroristas prontos para explodir a Tie-Rack. É improvável que eles me confrontem diretamente, mas caso o façam, devo contar-lhes a verdade. Devo mostrar-lhes qual o meu negócio. Estou planejando ficar no Aeroporto de Heathrow até que eu veja alguém conhecido. (...)

Surpreendentemente, espero por trinta e nove minutos e não vejo ninguém conhecido. Nenhum sequer, e ninguém me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas com as suas identidades pessoais padronizadas (alguns sobrenomes eu conheço), exceto pelos motoristas que estão mais bem vestidos. Desde criança, qualquer coisa que eu vista parece pijamas. Casacos, camisas, camisetas, jeans, ternos; são como pijamas amassados. (...)

Eu me escuto pensando sobre todas as pessoas que conheço que me desapontaram por não terem saído cedo numa terça-feira de manhã para glamurosos destinos europeus. Meus ex-colegas do escritório de seguros ainda devem estar presos nas suas escrivaninhas, como eu sempre disse que estariam, quando eu também estava preso lá, desperdiçando o meu tempo e incapaz de me estabelecer enquanto Ally avançava firmemente, conseguindo o seu doutorado e a sua primeira bolsa de pesquisa na Universidade Reading, sua primeira promoção.

Nossos amigos adultos mais recentes, que possuem trabalhos sérios e que, portanto, eu espero estar vendo a qualquer momento agora, me dizem que trabalhos domésticos são ocupações perfeitamente decentes para um homem, até mesmo algo encorajador, sim, especialmente ficar em casa com as crianças. Esses nossos amigos são, em princípio, amigos de Ally. Parece que não conheço mais ninguém, e fora as crianças e os planos sobre as despesas gerais, ouvindo o meu próprio pensamento, eu ouço os pensamentos de um rabugento. Não era isso que eu esperava ouvir.

Eu começo a chorar, não fazendo caretas ou convulsivamente, apenas grandes e silensiosas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não quero que ninguém que eu conheça me veja chorando, por que não sou o tipo de pessoa que tem uma crise no meio do Aeroporto de Heathrow numa terça-feira de manhã. Eu cuido da nossa casa de forma impecável, como um negócio. É um trabalho sério. Eu tenho planilhas para monitorar a situação dos sacos do aspirador de pó e papéis impressos com códigos coloridos sobre as conseqüências éticas do uso de fraldas. Eu não estou sendo eu mesmo hoje de manhã. Não sei quem sou.



Entry #9 - Points: 2
Heloísa Ferdinandt
Heloísa Ferdinandt
United States
View all tags
“Com meus pensamentos”
Richard Beard

O Aeroporto Heathrow é um dos poucos lugares na Inglaterra onde se vê armas à mostra. Vêm nas mãos dos policiais em mangas curtas e vestes militares pretas e alertas aos terroristas prontos a explodir uma das lojas da Tie-Rack. Eles não me confrontariam diretamente, mas se o fizerem, é melhor dizer-lhes a verdade. Declarar o que estou fazendo. Planejo ficar no Aeroporto Heathrow até ver algum conhecido. (...)

Incrível, trinta e nove minutos e nada. Nenhum conhecido meu e ninguém que me conhece. Sou tão anônimo quanto os motoristas com seus crachás de identificação (conheço alguns dos sobrenomes), só que os motoristas se vestem melhor. Depois dos filhos, tudo que visto parece pijama. Casacos, blusas, camisetas, jeans, ternos; como pijamas usados. (...)

Ouço meus pensamentos sobre todos os conhecidos que me decepcionaram por não saírem cedo na manhã de terça-feira para algum destino europeu fascinante. Meus antigos colegas da seguradora ainda devem estar presos às mesas, como eu sempre falava que estariam, quando também estava emperrado lá, perdendo meu tempo e incapaz de me assentar, enquanto Ally avançava resoluta, fazendo o doutorado e conquistando uma bolsa de pesquisa na Universidade de Reading, sua primeira promoção.

Nossos amigos adultos de hoje em dia, pessoas com empregos sérios e que, portanto, devo ver a qualquer momento, dizem que dono de casa é uma ocupação perfeitamente aceitável para um homem; é corajoso até, sim, másculo ficar em casa cuidando dos filhos. Estes amigos são, antes de tudo, amigos de Ally. Pelo jeito, já não conheço ninguém e, sem as crianças e os aviões passando, meus próprios pensamentos soam como os de um resmungão. Não é o que eu esperava ouvir.

Começo a chorar, sem trejeitos nem soluços, simplesmente lágrimas grossas e silenciosas escorrendo pelo rosto. Não quero que algum conhecido me veja chorando, não sou do tipo que se desmancha à toa no Aeroporto Heathrow na manhã de uma terça qualquer. Minha administração da casa é impecável, como uma empresa. É coisa séria. Tenho planilhas monitorando a troca do saco coletor do aspirador de pó e folhetos classificados por cor sobre as conseqüências éticas do uso de fraldas. Hoje não me sinto eu mesmo. Não sei quem sou.
Heloísa Ferdinandt
Heloísa Ferdinandt
United States
Vêm nas mãos dos policiais em... - Vêm, verb 'vir', present tense, 3rd person plural - (as armas) vêm nas mãos dos policiais... Thank you.



« return to the contest overview



Translation contests
A fun way to take a break from your normal routine and test - and hone - your skills with colleagues.